Conheça o streetwear do estilista paraense Petrvs Figueira!

Foto: Reprodução/Instagram @petrvsfigueira

Petrvs Figueira, estilista paraense que já ganhou cinco prêmios estaduais de design, fundou sua marca homônima em 2013. Nela, o designer aponta para o streetwear e reverencia traços da cultura do estado do Pará, com formas irreverentes e representativas, cortes retos, formatos oversized e propósito sustentável.

“Mais (do) que buscar evolução das minhas qualidades enquanto estilista, desejo a transformação através da mensagem que emito. Meu streetwear nunca será um espaço de tranquilidade. Não aprecio a ideia de representar uma Amazônia verde e feliz, pois essa não é a nossa realidade. Minha visão é sobre explorar profundamente os discursos que a roupa traz em um mundo que se relaciona através da imagem”, explica ao Norteia

A ousadia de Petrvs chama atenção. Afinal, transformar narrativas por meio da moda não é algo tão habitual por aqui – nos faltam oportunidade e espaço. A região Norte, além de estar longe de ser líder nesse mercado, também possui pouco engajamento local para a moda autoral. Sobre isso, contudo, Petrvs afirma que “as pessoas daqui estão valorizando um pouco mais os artistas da região. Só não somos maiores porque não temos indústria”.

Petrvs tem razão. Ter indústria é a peça-chave para compor esse cenário. Com ela, teríamos mais oportunidades, olharíamos para a moda com mais estímulo e euforia, poderíamos nos dedicar em projetos acadêmicos locais e não nos preocuparíamos em migrar para outras localidades em busca de oferta de trabalho.

Foto: Coleção "Muleke Doido" (Reprodução/Instagram) @petrvsfigueira

Ainda assim, contrariando todos os “poréns”, Petrvs construiu e conquistou seu espaço. “É difícil viver de Moda aqui. Mas é fundamental perceber o valor da sua própria história. Ninguém se destaca fazendo o que todos estão fazendo - por melhor que faça”, contou ele. O estilista, que já participou de projetos do Instituto Casa de Criadores e da Revista Elle Brasil, acredita que, por mais que existam muitas oportunidades em cidades maiores, recomeçar fora do seu lugar de origem não é uma opção, pois o formato digital tem colaborado para a divulgação mais ampla das suas criações.

As mídias sociais têm fomentado cada vez mais esse novo contexto, principalmente após os últimos acontecimentos de reclusão. Ao que tudo indica, enquanto não tivermos a valorização e o espaço necessários para a moda do Norte, essa continuará sendo a maior aposta para conseguir visibilidade.

Ninguém se destaca fazendo o que todos estão fazendo - por melhor que faça!

E falando em redes sociais, em seu perfil oficial do Instagram (@petrvsfigueira), o designer lançou a sua mais recente coleção, intitulada “Muleke Doido”. Nela, o designer descreve e exalta a cultura periférica do bairro de Sacramenta (Belém-PA), com crítica social, bom humor e memórias afetivas.

Foto: Muleke Doido (Reprodução/Instagram) @petrvsfigueira

O streetwear de Petrvs, nessa nova coleção, bebeu da fonte da juventude dos anos 90 – aquela apaixonada por aparelhagens e empoderada de pautas questionadoras. As cores terrosas e estampas autorais vestem modelos de beleza miscigenada que cruzam a cidade clamando por espaço em uma sociedade discriminatória que insiste em fechar seus olhos. Realmente, o design de Petrvs não é um lugar de tranquilidade: ele representa a voz de milhares de pessoas que sofreram incessantemente tentativas de silenciamento.

Perguntado sobre quais conselhos Petrvs daria aos criativos de moda do Norte, o designer sugere que “se não puderem fazer uma faculdade, busquem livros, vejam vídeos e aprendam a costurar. Se querem trabalhar criando roupas, é indispensável dominar a costura! ”. Perfeita colocação. Entender o processo de construção de uma peça nos faz enxerga-la com a finalidade de depositar ali nossas ideias criativas – e, quem sabe, ser porta-vozes de outras concepções.

Petrvs representa esse movimento. Seu modus de fazer moda transcreve sua essência criativa e revive suas histórias. Nada disso, porém, foi ou é fruto de pouca luta!

“Moda não é uma terapia, nem um hobby, nem trampolim pra fama. É um negócio que precisa de comprometimento e persistência”, disse ele.

Não há como negar: fazer moda com tanto zelo e autenticidade, considerando todas as dificuldades que o Norte nos impõe, requer muito mais que criatividade, requer, também, determinação. Juntas, elas levarão “Muleke Doido” aos quatros cantos do país, pois a força do Norte é potente e cativa multidões. Petrvs é do Norte, mas sua moda extrapola fronteiras. Petrvs é do mundo, mas sua arte vai além: extrapola a moda.